Células estaminais


     As células estaminais (células-mãe ou células-tronco) são células capazes de se auto-renovarem e de se diferenciarem em diferentes tipos de células ou tecidos.


         As células estaminais diferem das restantes células do organismo por terem as seguintes características:
1. São células indiferenciadas e não especializadas
2. Têm a capacidade de se auto renovar e dividir indefinidamente
3. São capazes de se diferenciar em linhagens celulares distintas.
         

         Para que as células estaminais se diferenciem em células específicas de tecidos ou órgãos, é necessário haver um condicionamento biológico que determine a sua evolução específica.

         Durante o desenvolvimento embrionário, as células estaminais especializam-se, originando os vários tipos de células do nosso corpo, como as células musculares, nervosas, cardíacas, ósseas e glóbulos vermelhos. Mais tarde, no adulto, as células estaminais limitam-se a reparar tecidos danificados e a substituir as células que vão morrendo. O exemplo mais conhecido é a constante renovação das células sanguíneas, como os glóbulos vermelhos, a partir de células estaminais presentes na medula óssea.


         Nem todas as células estaminais têm o mesmo potencial de diferenciação. As células estaminais podem ser obtidas a partir do embrião pré-implantação (células estaminais embrionárias), do embrião pós-implantação e do feto (células estaminais fetais), da placenta, ou de um organismo adulto (células estaminais adultas).


         Essa origem caracteriza as três grandes categorias de células estaminais, as totipotentes (têm um potencial de diferenciação ilimitado, podendo originar qualquer tipo de célula e tecido; existem no embrião pré-implantação com 3 dias de vida, estádio de 6-12 células), as pluripotentes (têm um potencial de diferenciação mais limitado, podendo originar qualquer tipo de tecido do organismo, à excepção da placenta; existem no embrião pré-implantação com 6 dias de vida, o blastócito, e no embrião pós-implantação), e as multipotentes (têm um potencial de diferenciação mais restrito, originando células de tecidos específicos; existem nos fetos tardios, no cordão umbilical, na placenta e nos tecidos adultos). No entanto, os dados mais recentes indicam que os tecidos fetais, da placenta e dos adultos também possuem uma população minoritária de células estaminais pluripotentes.
 

        As células estaminais adultas são células indiferenciadas que se encontram nos tecidos diferenciados e constituem uma reserva celular do organismo para renovar os tecidos ao longo da vida e para reparação dos tecidos quando ocorre lesão. Estas células foram já isoladas a partir de tecidos como a medula óssea, pele, fígado, pâncreas, sangue, tecido adiposo, ossos, gónadas, entre outros.

Células Estaminais do Sangue do Cordão Umbilical (SCU): 

         Do sangue do cordão umbilical do recém-nascido podem isolar-se células estaminais hematopoiéticas, que são multipotentes. Estas células possuem a capacidade de se poderem diferenciar nas células da linhagem sanguínea, os glóbulos vermelhos (eritrócitos), os glóbulos brancos (leucócitos) e as plaquetas. 
O transplante de células estaminais pode ser realizado usando  doadores potenciais, um irmão com perfil de histocompatibilidade HLA idêntico, um voluntário, não relacionado familiarmente mas HLA idêntico ou sangue do cordão umbilical proveniente de um banco público internacional. Nestes casos, está-se perante uma fonte alogénica. Pode-se ainda recorrer a um gémeo idêntico (transplante singénico) ou recolher células-tronco do próprio (transplante autólogo), no momento do parto, provenientes do sangue do cordão. Em fase adulta, essa recolha para transplante autólogo, é realizada no sangue periférico por um sistema de leucoferese ou por aspiração de medula óssea, frequentemente da crista ilíaca.

         Na ausência de medula óssea compatível para transplante alogénico ou heterólogo (de um dador externo) de células estaminais hematopoiéticas, as células do SCU são um recurso clínico com valor para o tratamento de algumas doenças hemato-oncológicas (doenças do sangue, que podem ser de origem tumoral, como as leucemias). 


         Futuramente, a aplicabilidade das células estaminais do SCU poderá estender-se a outro tipo de doenças, como as doenças cardíacas, doenças neurodegenerativas, doenças ósseas, entre outras. Ou seja, poderá ser utilizada na Medicina Regenerativa.

        
      Em vários casos, o número de células estaminais presentes no SCU (células CD34+) recolhido na altura do parto não é suficiente para a realização de um transplante em crianças com mais de 40 kg. Para estes casos difíceis existem as seguintes estratégias:
1. Expansão ex vivo de células do SCU



2. Transplante sequencial de duas unidades de SCU.

3. Transplante combinado de SCU e de MO.

4. Cotransplante com células estaminais mesenquimatosas isoladas do SCU.

 Aplicações terapêuticas das Células Estaminais de SCU:

I. Doenças com Tratamento Padronizado
         Nestes casos, o tratamento com HSPC é eficaz e já está totalmente comprovado, padronizado e generalizado. Para algumas destas doenças, as HSPC são o único tratamento disponível. Para outras doenças, são só empregues quando os outros tratamentos disponíveis falham ou quando a doença é muito agressiva e rápida.

1. Leucemia: Cancro das células do sangue com função imunológica, cancro dos leucócitos, ou cancro dos glóbulos brancos.
1.1. Leucemia Aguda
1.2. Leucemia Crónica


2. Síndromes Mielodisplásicos: Pré-leucemia.

3. Linfoma: Cancro dos leucócitos que circulam no sangue e nos gânglios linfáticos.

4. Anomalias Hereditárias dos Eritrócitos: Os glóbulos vermelhos contêm hemoglobina que transporta oxigénio no corpo humano.

5. Outras Doenças da Proliferação das Células Sanguíneas: anemias; anomalias hereditárias das plaquetas (as plaquetas são fragmentos dos megacariócitos que são necessários para que ocorra a coagulação); doenças hereditárias do sistema imunitário (Imunodeficiência Severa Combinada (SCID)); Neutropenias (Síndrome de Kostmann e Mielocatexia); Ataxia-Telangiectasia; Doenças dos Fagócitos.

6. Cancro na Medula Óssea: doenças dos plasmócitos. Os plasmócitos são linfócitos-B que segregam os anticorpos.

7. Outros Cancros sem origem nas células sanguíneas: Neuroblastoma e Retinoblastoma.

II. Doenças com Tratamento em Fase de Ensaio Clínico
         Nestas doenças, o tratamento com HSPC é benéfico mas ainda não está padronizado e aceite para ser generalizado. Nalguns casos, as HSPC retardam a evolução da doença mas não a curam. Noutros casos, as HSPC curam a doença mas a dose e a metodologia de aplicação das HSPC ainda está em fase de investigação clínica.

1. Transplantes para Tumores Cancerígenos: cancro da mama; Sarcoma de Ewing e Carcinoma de Células Renais



2. Transplantes para Doenças Hereditárias que Afectam o Sistema Imune e Outros Órgãos (Hipoplasia das Cartilagens e do Cabelo)



3. Transplantes para Doenças Metabólicas Hereditárias (Doenças de Acumulação de Mucopolissacáridos- Mucopolissacaridoses (MPS); Doenças com Leucodistrofia; Doenças de Acumulação dos Lisossomas e Osteopetrose


4. Transplantes para Doenças da Proliferação Celular (Doenças Histiocíticas)


5. Transplantes para Doenças do Sistema Nervoso Central (Esclerose Múltipla)



6. Terapia Génica: transplante de HSPC geneticamente modificadas.


7. Cardiomioplastia Celular: Reforço do músculo cardíaco lesado, por infusão de HSPC ou por promoção do seu crescimento.



III. Doenças com Tratamento em Fase Experimental:
         Nestas doenças, o benefício do tratamento com HSPC ainda não foi comprovado. Nalguns casos, os tratamentos já se encontram em ensaio clínico de fase I (comparação do tratamento com HSPC com o tratamento com outra terapia, para ver se as HSPC dão resultados melhores). Noutros casos, as experiências ainda estão em fase laboratorial (culturas celulares, animais).

1. Doenças Auto-Imunes (Artrite Juvenil; Artrite reumatóide)


2. Terapia Génica (Anemia de Fanconi; Doença de Parkinson)

3. Reparação de Células do Sistema Nervoso

3.1. Doenças do Sistema Nervoso Central (Doença de Alzheimer; Doença de Huntington; Doença de Parkinson)

3.2. Doenças Traumáticas (Lesão da Medula Espinhal; AVC; Anoxia Neonatal )

4. Reparação de Fracturas Ósseas:
- Transplante Combinado de Rim e de HSPC


- Diferenciação das HSPC em Células Renais- Diferenciação das HSPC em Células Hepáticas (ex: falência hepática por toxicidade a fármacos)

- Diferenciação das HSPC em células dos ossos, das cartilagens, em adipócitos, em vasos sanguíneos, em células musculares e células musculares cardíacas.